Ganhadora de prêmio de Design Editorial acredita que capa bonita pode salvar um livro ruim |Entrevista|

É muito comum leitores julgarem um livro pela capa. Para a designer de capas Tita Nigrí a capa é a porta de entrada para um universo, chamando a atenção do leitor para o conteúdo dentro da obra. “Se o livro for ruim, pelo menos a sua capa, o objeto, vai servir para alguma coisa como uma referência visual, ou objeto de decoração”. Vencedora do prêmio Bornancini de Design Editorial, Tita sempre gostou de capas de livros e discos. No seu segundo período da Escola de Belas Artes da UFRJ, iniciou um estágio dentro da Editora da universidade e, quando se formou, começou a realizar outros projetos para editoras maiores como a Editora Record, Objetiva, Ediouro e Rocco. Todas as fotos exibidas aqui são trabalhos que Tita já fez em algum ponto de sua carreira. Confira a entrevista que o Bolha Literária fez com ela!

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Bolha Literária: Como é o seu processo criativo em uma capa de livro?

Tita: Não é sempre que os designers conseguem ler o livro, nestes casos, ou fazemos uma leitura rápida ou precisamos obter o máximo de informações possíveis no briefing. Primeiro eu converso com a editora responsável pelo projeto e quando dá eu converso com o autor. É importante saber quais são as expectativas em relação ao livro, se existe alguma ideia inicial por parte do autor ou da editora. Alguns autores imaginam um ponto de partida para a capa ou para o projeto gráfico do miolo.  A leitura, mesmo sendo rápida, é importante para capturar informações que me despertam a atenção e que me façam construir uma imagem: palavras chaves, passagens importantes da história – faço uma imersão nestes elementos, estabeleço os personagens e a trama central. A partir disto eu escolho uma técnica para executar o projeto – pode ser uma ilustração, uma colagem, uma foto pesquisada em bancos de imagens ou uma que eu mesma manipulo, invento. As vezes faço duas versões e envio para a editora para discutirmos, normalmente meus projetos são aprovados rapidamente, e isto é muito bom.

Bolha Literária: Você conversa com o  autor do livro quando faz algum projeto?

Tita: Depende de cada projeto. Projetos para editoras grandes como a Record e a Objetiva procuram não colocar o designer em contato direto com o autor, mas há excessões. Eu tive contato direto com a galera do Casseta e Planeta, por exemplo, com a atriz e poeta Elisa Lucinda, com o jornalista Rodrigo Faour e foram projetos que deram muito certo. A autora Nilza Rezende, por exemplo, acabou me chamando para fazer vários alguns projetos independentes (sem editora). 

Eu adoro trabalhar direto com autores, trocar ideias, entender além da história do livro, os bastidores do processo – é um processo de imersão e empatia. Eu trabalho para vários autores que me procuram para viabilizar seus projetos de forma independente – sem a editora como intermediária. Hoje em dia é mais simples realizar um livro, existem muitos meio de comercializá-lo ou compartilhá-lo. Meu trabalho, nestes casos, vai além do design gráfico e passa a ser também de coordenação editorial.

Recentemente ganhei o prêmio Bornancini, 1º lugar em Design Editorial pelo livro-objeto “A Flor da Pele”. Foi um projeto grande, independente e realizado diretamente com a autora – a Martha Scodro. É um livro-objeto sem texto, só com imagens de flores – a narrativa literária é toda visual e tátil. Passei 6 meses indo na casa da autora, no mínimo 2 vezes por semana, além das horas que me dediquei a este trabalho em casa. Escolhemos as fotos, decidimos como seria a manipulação de cada imagem, criamos um sequência narrativa, inventamos dobras, formas de abrir o livro, de colocá-lo em pé. Ela acompanhou todas as etapas de produção, inclusive na gráfica. A costura do livro foi feita artesanalmente por uma amiga, a encadernadora Gabriela Irigoyen, especialista nisto. Além do livro idealizamos e realizamos com a videomaker Paula Dager, uma série de book trailers que apresentavam várias manipulações do livro. Foi um projeto intenso, desde a concepção até o lançamento, e tudo diretamente com a autora. Foi muito legal. Agora em julho de 2017 eu irei ministrar um curso de design dirigido para autores.

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Bolha Literária: Qual é o maior desafio de ser uma designer de capas de livros?

Tita: Aprovar a arte com editores, gerentes de marketing, autores, acabamentos com produtores gráficos e eventualmente a equipe de criação da editora – ou seja, é muita gente para aprovar – e normalmente esta segmentação traz muitas divergências e mudanças às vezes no briefing, ou até mesmo quando a diagramação já está sendo feita. Mas acho que o maior desafio mesmo, de todos, é elaborar um projeto que se destaque no meio de tantos livros, tantas cores, imagens e assuntos dentro de uma mesma livraria. Por isto, o projeto tem que ser diferente, incomum, promover experiências e ao mesmo tempo ter uma boa relação custo x benefício.

Bolha Literária: Qual é a capa que você tem mais orgulho de já ter feito?

Tita: Em relação ao projeto como um todo o meu queridinho é o livro-objeto “A Flor da Pele”. Ele teve tudo de especial: uma cliente maravilhosa, um conceito inspirador, um processo criativo intenso, uma relação de liberdade e confiança – coisas que potencializaram muitas energias criativas e positivas e um prêmio. Mas devo confessar que eu sou uma pessoa bem entusiasmada pelos projetos que faço, mergulho de cabeça neles e fico muito focada durante o processo… por isto, o que eu mais me orgulho normalmente costuma ser aquele que estou fazendo no momento.

Gostou da entrevista? Essa é a primeira de muitas que ainda vão vir. Autores, editores, designers de capas, tradutores… O universo literário tem diversos personagens com ótimas histórias para contar. Qual deles vocês gostariam que o Bolha entrevistasse? Não se esqueça de seguir o site no Facebook. Até a próxima!

 

Entrevista: Nathália Afonso
Fotos: Divulgação

 

 

 

 

 

10 comentários Adicione o seu

  1. Lucimar da Silva Moreira disse:

    Parabéns para a vencedora Tati, eu confesso que quando olho para o livro o que me chama a atenção é a capa. O trabalho de uma designer de capas é super importante. Gostei muito da entrevista com a Tati, sobre a sua pergunta acho interessante uma entrevista com autores de livros, bjs.

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  2. Catarine disse:

    Eu amei a entrevista. E, claro, eu concordo que uma capa atrativa é super importante. E, claro, quando há oportunidade de falar com os autores, torna-se bem mais interessante, até para definir um conceito fiel em conjunto.
    Beijo.
    lefashionaire.com

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  3. Lea Lippi Rodrigues disse:

    Acompanho com muita atenção a descrição dos processos criativos. Fico atenta à passagem da criação à percepção de quem encomendou tal trabalho pra ver como se dá o sentimento de perda do original para o ” interesse” de quem o adquiriu. Penso não ser muito fácil a conexão entre o “criar” e o “uso”, os fins a que se destinam.
    Gostei muito, me fez “sair do lugar”…

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  4. Bestriz Anjos disse:

    Parabéns a ela pelo prêmio.
    Mas não sei se concordo. Se estamos falando em questão de números, vendas. Uma boa capa pode salvar um livro ruim. Mas uma história ruim vai continuar sendo uma história ruim, independente da capa ou da editora que publicou.
    O que me deixa mais chateada no meio editorial é saber que existem milhares de histórias muito boas que são negadas por algum motivo aleatório, mas que sabemos que tem a ver com o autor não ser conhevido, enquanto tem autores super conhecidos escrevendo obras ruins e sendo publicados.
    As vezes não dá pra entender.
    O mercado é enorme mas parece que buscam sempre a mesma coisa.

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  5. Olá! Tudo bom?
    Nossa achei muito legal esse post, eu acho que a primeira impressão é a que fica sempre, é muito bom ler um livro que a capa seja bela, e sim muitas vezes e muitos leitores usam como critério, mas acho que ainda sim a capa não é tudo.

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  6. Claro que algumas vezes compro livros por indicação, mas naqueles momentos que você está procurando por um livro novo, a capa é o fator mais importante para chamar ou não minha atenção.
    Adorei a entrevista e parabéns pelo prêmio.

    http://www.sobrecadamomento.com.br

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  7. Laysla Fontes disse:

    Oi Natália! Tudo bem? Em alguns aspectos, concordo com a Tita. De fato, a semiótica tem um grande poder em diversos tipos de produtos, sejam eles livros ou não. O uso das cores, das fontes, das imagens contam uma história e impactam o leitor de uma maneira específica. Nada é por acaso, não é mesmo? Os publicitários não nos deixam mentir. Muito bacana a entrevista! Uma bela capa sempre atrai atenção (mas, não nos esqueçamos que o que nos faz amar um livro também é o conteúdo dele).

    Beijos, beijos!
    Lay.

    http://www.umtracoqualquer.com

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  8. Olá Nathália!!
    Parabéns para a vencedora!!
    Eu engrosso o time que acredita que a capa de um livro é quase tão importante quanto a história. Se for um livro aleatório que vejo na livraria, então é a capa que acaba me convencendo a comprar. Já comprei muitos livros ótimos seguindo essa intuição.
    Parabéns pela ótima entrevista!!
    Bjs
    https://almde50tons.wordpress.com/

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  9. lorenacaribe disse:

    Que legal !!! Foi ótimo esse post, pude conhecer mais sobre o trabalho. Desejo muito sucesso. Ótimo você compartilhar !!!
    super bjooooooo

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  10. Que lindo conhecer essas pessoas. Elas estão escondidas, devem serem vistas.
    Adorei a entrevista e bem rápida, de fácil interpretação sem complicações.
    Conheço um moço que também arrasa nas capas. Dimitri Uziel. Pago o pau pra esse cara.

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